Opinião
Juventude periférica
Do lugar onde vim, vieram e vem várias pessoas, todas elas na mesma situação, todas elas com os mesmos desafios no que diz respeito a crescimento e evolução mental, profissional, social e física.
Temos nas comunidades ou periferias da cidade de Pelotas um grande número de jovens que, por um motivo ou outro, acabam ficando no meio do percurso nesse quesito do desenvolvimento. Os problemas, alguns crônicos dentro desses territórios, são um fator real do déficit do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Pra muitas pessoas isso não é perceptível, pra muitas pessoas o entendimento que se tem é do fator meritocrático, como se alguns componentes não interferissem tanto positiva como negativamente pra que esse desenvolvimento seja pleno.
A ausência de um sistema de esgoto e água encanada, a falta de material adequado e forma de atendimento nos postos de saúde, o sucateamento das escolas públicas - tanto estaduais quanto municipais (onde o salário do professor está incluso) -, a falta de opção para lazer e espaços de convivência são, sim, fatores que retardam em alguma medida o avanço do ser humano.
Quero me apegar, em se falando de juventude, nos espaços públicos de convivência, já que se forem provados existem algumas opções desde que se passe na catraca mediante o pagamento.
Não vejo, nos bairros, espaços qualificados de convivência, espaços esportivos e fomento de arte e cultura que seja proporcionado pelo poder público. Existem algumas iniciativas tímidas de algumas instituições, porém são eventuais e pontuais as que se utilizam dos espaços já existentes ou até mesmo o meio da rua.
Sou de um tempo onde, aos finais de semana, a volta dos campos de futebol "fervia" de gente, times da zona sul contra times da zona oeste, zona norte contra leste. Momentos que mobilizava os jogadores e equipes, moradores e comércio local, também vi muito evento de rua acontecer e ajudei inclusive na construção de algumas propostas nesse sentido mais Cultural.
Mas e hoje, o que resta pra nossa juventude? O que eles têm como forma de lazer e entretenimento? Quais espaços específicos para o desenvolvimento de arte, cultura, esporte e outras coisas que potencializam e contribuem para o desmatamento humano, intelectual, corporal e de convivência social da nossa juventude?
É fácil criticarmos atos de vandalismo cometido por jovens, é fácil criticar o envolvimento de jovens com drogas e com o crime, é fácil dizer que eles não têm maturidade física, psicológica e material pra terem filho e ver cada vez mais jovens grávidas na adolescência, é fácil chamar os jovens de vagabundos, que não trabalham e não serem capacitados pra isso!
Poderia aqui citar espaços onde não temos, mas poderíamos ter complexos esportivos e culturais e eu duvido que, ao longo dos anos, se esse espaço fosse realmente bem organizado, ativo e gerenciado, se não veríamos o impacto positivo na comunidade e sobre tudo na vida das pessoas e no ser humano individualmente. Se queremos o desenvolvimento social e econômico da nossa cidade, precisamos pensar no desenvolvimento humano que não passa somente, mas também, pela infraestrutura dos locais vulnerabilizados, mas pensar e efetivar condições para o desenvolvimento da pessoa, do humano que habita esses ambientes.
Não depende só da comunidade, pois se dependesse e as condições fossem favoráveis, isso estaria acontecendo, mas precisa muito mais da boa vontade política e de responsabilidade social da iniciativa privada.
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